Do boom das commodities ao IVA: a montanha-russa da economia brasileira
Do salto impulsionado pelas commodities nos anos 2000 à tentativa de simplificação com o IVA: o que funcionou, onde falhou e por que o Brasil precisa construir 'a prancha'.

Do salto impulsionado pelas commodities nos anos 2000 à tentativa de simplificação com o IVA: o que funcionou, onde falhou e por que o Brasil precisa construir 'a prancha'.

O Brasil já viveu um dos maiores ciclos de crescimento da sua história recente.
Nos anos 2000, com o boom das commodities (soja, minério, petróleo) e a China comprando tudo, a economia cresceu, empregos formais surgiram e milhões de pessoas saíram da pobreza.
Mas o que parecia um “novo milagre” revelou-se passageiro.
No governo Lula, o país surfou a onda internacional.
O dinheiro que entrava ajudou a financiar programas sociais como Bolsa Família, expansão de universidades (Prouni, federais), aumento real do salário mínimo e políticas de crédito popular.
O resultado foi inclusão social e sensação de ascensão.
Mas havia um ponto cego: o modelo dependia de consumo e commodities, sem reformas estruturais (tributária, administrativa, infraestrutura).
Dilma herdou a onda em declínio.
Para tentar segurar o crescimento, interveio nos preços de energia e combustíveis, apostou em desonerações e crédito artificial.
A conta estourou em 2014–2016: recessão profunda, inflação, desemprego e perda de confiança internacional.
Foi o início da crise política que culminou no impeachment.
Michel Temer assumiu prometendo ajuste.
Implementou teto de gastos e reforma trabalhista, mas sua base política frágil e escândalos de corrupção limitaram avanços.
O país não voltou a crescer com força.
Bolsonaro chegou prometendo liberalismo, mas entregou pouco: a única grande reforma foi a da Previdência.
A pandemia expôs falhas graves na gestão de saúde e economia, aumentou a dívida pública e reforçou a instabilidade institucional.
O desmatamento e os conflitos políticos desgastaram ainda mais a imagem externa.
O Brasil surfou uma onda externa sem construir a prancha interna.
Não reformou impostos, não simplificou burocracia, não investiu de forma estrutural em educação e inovação.
Quando a maré baixou, ficamos à deriva — improvisando para sobreviver.
A Reforma Tributária, aprovada em 2023, tenta corrigir parte dessa herança.
O novo modelo cria o IVA dual (CBS federal + IBS estadual/municipal), substituindo ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins.
A primeira lei complementar já foi sancionada em 2025, definindo isenções e cashback social.
A implementação será lenta: até 2033, o sistema antigo e o novo vão coexistir.
O objetivo é simplificar e dar transparência: menos burocracia, mais clareza sobre quanto se paga de imposto.
Não resolve todos os problemas históricos, mas pode ser um passo para finalmente “construir a prancha” que faltou nos anos da bonança.
Em resumo:
O Brasil já mostrou que sabe crescer quando o mundo ajuda.
O desafio agora é provar que consegue crescer por conta própria.
Autor no ecossistema Trevvos.